Eu era sua

Nunca foi segredo o quanto eu amo o entardecer. E como eu amo observá-lo sozinha. Porque também nunca foi segredo o quanto eu gosto de ficar sozinha.

Mas para você eu sempre abria uma pequena exceção e te convidava para se sentar ao meu lado naquela velha mesinha abandonada por todos.

Não é segredo que a tua companhia me faz bem.

O modo como você sorria para mim e me olhava diretamente nos olhos aquele dia, eu sabia que você tramava alguma coisa.

Te ouvia reclamar dos problemas, expor sua rebeldia indomável, e até mesmo achava graça do seu jeito todo despreocupado com tudo e com todos, quando na verdade eu sabia que não era bem assim.

Eu nunca te vi só como um amigo, mas aquele dia, essa possibilidade de só amizade parecia ainda mais distante.

Infelizmente a noite começou a cair e eu precisava ir embora, teria que esperar o próximo entardecer para poder desfrutar da sua companhia de novo, isso me torturava, parecia que ia demorar séculos para que eu pudesse te ver novamente.

Me levantei para ir embora, estranhamente você ficou para trás por um instante, o que não era comum, pois você sempre me acompanhava até um certo ponto do meu trajeto.

Senti uma força muito forte me agarrando pelo braço esquerdo e me puxando de volta para trás. Era você. Me puxando para os seus braços.

Parei com uma mão no seu peito e o meu rosto incrivelmente perto do seu. Sentia sua respiração tão ofegante, pelo calor do momento, quanto a minha.

Me desarmei. Eu tirei a mão do seu peito e coloquei na sua nuca. Me entreguei.

Você finalmente soltou o meu braço e me puxou pela cintura fazendo o meu corpo colar no seu. Foi tudo tão rápido, mas para mim aconteceu em câmera lenta. Você me beijou.

Eu só queria que aquele beijo tivesse durado para sempre! Não queria mais te soltar, porque agora você finalmente era meu e eu era sua.

E quando você parou de me beijar, sorrimos simultaneamente. Ficamos abraçados por alguns minutos, mas pra mim pareceram horas, e você acariciava meus cabelos, como eu sempre havia sonhado.

Eu ignorei minhas obrigações, ignorei que deveria ir embora, e nós voltamos abraçados para a nossa mesinha. 

Foi assim que surgiu meu mais novo hábito, observar a lua.