Meu celular tocou às 03:00 da
manhã com a pior notícia que eu poderia receber. Você havia sofrido um
acidente, e esse acidente te tirou de mim.
As pessoas costumam ter um dia
para nomeá-lo como o melhor da sua vida, eu tinha um para chamar de o pior dia
da minha vida.
Foi um chororô sem fim. Todos
os seus amigos estavam lá para me apoiar, e de certa forma, eu estava lá para
apoiá-los também, pois todos havíamos sofrido uma grande perda.
Já faziam 24 horas que eu não
dormia, estava abalada demais para fazer qualquer coisa. Comer, beber água,
conversar com alguém. As únicas palavras que eu disse, foram para a sua mãe,
perguntando se podia dormir na sua casa, no seu quarto.
Tomei o banho mais longo de
toda a minha vida, vesti sua camiseta do lanterna verde e deitei na sua cama,
de cabelo molhado... Você odiava tanto quando eu fazia isso.
Não preciso nem dizer o quanto
demorei pra dormir, o quanto chorei naquela noite, o quanto aquela cama me fez
lembrar de inúmeros momentos ao seu lado. Tantas noites de amor, tantos
cochilos nas tardes de domingo, tantas guerras de travesseiro... E agora eu não
teria mais nada disso, porque eu não tinha mais você.
Quando acordei, sua mãe
carinhosamente me deu um abraço apertado de bom dia, meu deu uma mala e disse
que o que eu quisesse dos seus pertences eu poderia levar para o meu apartamento, embora ela
não recomendasse que eu fizesse isso, para não prolongar a minha dor.
Estávamos noivos. Minha dor já era
grande o suficiente, objetos não a deixariam maior ou mais intensa.
Não pensei duas vezes antes de
começar a encher a mala com coisas suas.
Peguei minhas três camisetas
preferidas, uma delas eu havia dado para você. Dois moletons. Um urso, que eu
tinha te dado também. Seu perfume. Seu box de How I Meet Your Mother. E sua
coleção inteira de bonés.
Coloquei a mala no banco de
trás de carro, entrei e dei partida. Estava na hora de voltar para o meu
apartamento, o que acabou sendo um pouco mais difícil do que ir embora da sua
casa, já que se meu apartamento falasse, teria inúmeras histórias de nós dois
para contar.
Passei o dia todo organizando
suas coisas no apartamento.
A noite pedi uma pizza, tomei
um banho e fui para a cama, vestindo uma camiseta sua novamente. Desta vez, não
foi difícil pegar no sono.
Meu celular tocou às 03:00 da
manhã, sua foto no visor me causou uma estranha sensação de medo. Atendi. Era você me dizendo que havia sofrido um acidente, mas que estava bem e
que logo estaria no meu apartamento para me dar um abraço forte. Disse que
estava com saudades e desligou.
No princípio fiquei confusa. Eu
já não tinha te perdido? Será que isso era um sonho?
Olhei para a minha roupa. Não
era a sua camiseta com a qual eu tinha ido dormir, era o meu pijama de todos os
dias.
Eu mal podia acreditar, você
estava bem, nós ainda iríamos nos casar e construir uma família. Toda a dor que
eu havia sentido, toda a angústia, o desespero, nada era real.
Ao invés de demonstrar
preocupação quando você chegou, demonstrei felicidade, sei que você não
entendeu muito bem na hora. Mas eu precisava dizer que te amava antes de surtar
com o seu braço quebrado.
Às vezes a vida nos prega peças
para que aprendamos a dar valor a cada dia que passamos ao lado de quem amamos.
Cada segundo conta!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue texto excelente! Parabéns!
ResponderExcluirMuito obrigada!
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